Povoado de São Julião
O monte de São Julião localiza-se na freguesia da Branca, concelho de Albergaria-a-Velha, distrito de Aveiro.
O interesse arqueológico do local foi comprovado durante a década de noventa do século XX, quando trabalhos de plantio intensivo trouxeram à superfície vestígios da ocupação do monte durante os finais da Idade do Bronze, há cerca de 3000 anos.
Nessa altura, sob a responsabilidade dos arqueólogos Fernando Silva e António Manuel Silva, do Centro de Arqueologia de Arouca foram realizadas as primeiras intervenções arqueológicas, que colocaram a descoberto parte da estrutura de delimitação do sítio.
Os trabalhos foram entretanto interrompidos, tendo sido retomados em 2014, realizando-se anualmente desde essa data, no âmbito dos projetos de investigação PROBA, PROBA+2 e VAL-JUL, este último tendo como objetivo a conservação e valorização do sítio arqueológico.
As escavações realizadas incidiram, sobretudo, em quatro áreas particulares do sítio – os troços da estrutura de delimitação a poente e a sul; a mamoa e o posto telegráfico.
A estrutura de delimitação, em rampa, foi construída em pedra e terra e encontra-se visível numa área superior a 200 m2, na vertente poente, enquanto que na vertente sul é visível numa área aproximada de 120 m2. A sua construção foi datada dos inícios do I milénio a.C.
Já a mamoa, um monumento funerário que terá sido construído antes da ocupação do monte enquanto povoado, apresenta cerca de 14 m de diâmetro, apresentando-se perturbada pela extração de pedra nas suas imediações. Além da couraça lítica, o monumento apresenta também anel lítico periférico. A câmara central foi violada em época contemporânea, tendo sido utilizada nesse período, para fins indeterminados.
Finalmente, foi ainda intervencionada uma outra área, correspondente a uma construção contemporânea que serviria de apoio aos militares que se encontravam em São Julião ao serviço do Corpo Telegráfico, uma vez que, na primeira metade do século XIX, foi aí instalado um telegrafo ótico que integrava a linha Lisboa-Porto. Trata-se dos alicerces de um edifício, construído em alvenaria de granito com argamassa. O edifício com cobertura de telha, apresentava pelo menos três compartimentos. O melhor preservado apresenta planta retangular, com área aproximadamente de 15 m2 e piso em saibro. Junto a uma das suas paredes, identificaram-se dois buracos de poste.
Os materiais arqueológicos recolhidos distinguem-se, assim, entre os dois principais períodos de ocupação – o bronze final e o século XIX.
Do século XIX destaca-se o grande volume de cerâmica de construção, de cerâmica comum contemporânea (louça vermelha, louça negra, faiança, vidrado de chumbo), de metais ferrosos, como pregos, relacionados com a sua construção e ainda outros elementos metálicos relacionados com o uso militar do sítio, como um projétil, peças de um mosquete e um botão de farda inglês. Foram ainda recolhidos alguns fragmentos de vidro.
Já no que concerne aos materiais mais antigos, o material mais numeroso é o cerâmico, entre o qual se distinguem as formas típicas deste período, como potes ou taças carenadas. Foram ainda recolhidos alguns elementos líticos, como pesos, elementos relacionados com a moagem e ainda lâminas, lascas e outros elementos talhados.
Destaca-se ainda um conjunto significativo de barro de construção, que seria usado nos pisos ou nas paredes das casas, que seriam construídas em materiais perecíveis. Foram também recolhidos alguns elementos relacionados com a metalurgia, entre os quais se destacam restos de cadinhos, moldes de fundição, pequenos objetos em bronze, uma foice tipo Rocanes e ainda um par de brincos.
Projeto VALJUL
Conservação e Valorização do Sítio Proto-Histórico de são Julião da branca
POVOADO DE SÃO JULIÃO DA BRANCA (ALBERGARIA-A-VELHA)
Centro de Arqueologia de Arouca