“Augusto Martins Pereira era um homem à frente do seu tempo”. Foi assim que a historiadora Raquel Varela definiu o fundador da Fábrica Alba, cujas cerca 4000 fichas de trabalhadores serviram de base para o livro “O Mundo é um Moinho – História Económica e Social de Albergaria-a-Velha no século XX”, escrito em coautoria com a antropóloga e socióloga Luísa Barbosa Pereira. A obra foi apresentada na Biblioteca Municipal na tarde de sábado, 19 de junho, e constitui um importante documento histórico para compreender a dinâmica de uma das mais importantes empresas metalúrgicas nacionais.
Num ambiente informal, Raquel Varela explicou que a iniciativa de fazer um livro sobre a Fábrica Alba partiu da Câmara Municipal, mais especificamente do Vice-Presidente Delfim Bismarck, que contactou centros de investigação no sentido de apresentar o arquivo das fichas dos trabalhadores, um espólio raro em Portugal e que a historiadora considerou fundamental investigar. Com base nestas cerca de 4000 fichas e outra informação complementar foi possível traçar o percurso da Alba, desde a sua abertura até ao encerramento nos anos 90 do século passado.
No século XX, Portugal era um país atrasado em termos de industrialização, mas houve nichos empresariais, como a Alba, que desenvolveram um projeto com impacto, em muito devido à visão do fundador Augusto Martins Pereira que, além da fábrica, desenvolveu uma vasta obra social, cultural e desportiva – bairros habitacionais, um hospital, equipamentos culturais e desportivos, banda filarmónica e clube desportivo – que permitiram fixar a população, num país com falta de mão-de-obra qualificada e uma taxa elevada de emigração, o denominado ”Portugal exportador de homens”.
“Quando a Alba fecha, há um mundo que se perde, nesta dimensão do saber operário”, salientou Raquel Varela, pois a Alba era também uma importante “escola”, que formava técnicos especializados numa população com baixas qualificações. Para a historiadora este é um saber que se perde e que nunca mais retoma.
O livro “O Mundo é um Moinho – História Económica e Social de Albergaria-a-Velha no século XX” insere-se nas comemorações do centenário da Alba e vai estar à venda na Biblioteca Municipal brevemente. Até ao final do ano está patente, também na Biblioteca, a exposição “Uma História Global”, que acompanha o percurso da marca ao longo dos últimos 100 anos e inclui inúmeros objetos icónicos produzidos na fábrica Albergariense.