02 A 29 JUNHO 2023
BIBLIOTECA MUNICIPAL
COMO UM PÁSSARO QUE ENTRA PELA JANELA ABERTA
Exposição de Pintura de Elizabeth Leite
Uma tela é um imaginário salpicado de fantasias onde o simbólico procura, sem intrusão, na intimidade dos afetos. O realismo quase fantástico e as imagens estilísticas aconchegadas pela cor convidam-nos a descodificar cenas de um quotidiano onde habita gente normal.
Ei-los. Atores onde o clímax dramático se multiplica em cada canto.
Talvez aqui não haja corpos mas espelhos de alma que meditam e estão pensativos; encontram-se em igualdade.
A caracterização é abundante. Quase violenta. Numa paleta vigorosa que descobre os segredos das idades. Ambientes onde os imperativos estéticos são voluntariamente ausentes, e onde um certo abandono se pode sentir.
No representado, não há glória nem tragédia, não há batizados, casamentos ou funerais, não há procissões, cortejos ou banquetes…, mas sim a mais pura mesmice, a mais indiferente vulgaridade, as cenas mais comuns, mais desinteressantes, menos consideráveis…, mas transfiguradas no mais colorido e luminoso palco.
Corpos deselegantes, mesmo obesos, rostos sem graça, imperfeitos, defeituosos e igualmente defeituosos os corpos… iluminam-se milagrosamente tornando visível a felicidade da vida mais comum, mais vulgar, mais banal, aureolando as mais apagadas criaturas, fazendo-as luz para os nossos olhos e especialmente, para as nossas almas.
Somos estimulados pela agradável inquietação de uma pintura que nos confronta e nos questiona; somos levados pelas constelações metafóricas, pela volumetria das formas, pelo rigor plástico.
São registos – gestos tornados perenes.